24 Jul

Me identifico com  o que recebeu alta do Juqueri e de lá saiu e quando alguém lhe perguntava algo, falava:-Depois que eu morri, aconteceu isso ou aquilo se referindo a si, voltando de trem para algum lugar do sertão do Nordeste, de onde tinha vindo, de onde o tinham mandado para tratamento no Juqueri!

Me identifico com uma moça que em uma noite eu vi caminhando por uma avenida aqui da cidade em que moro, com uma senhora de mais idade a levando, a segurando pelo braço! Algo relacionado a estar vendo o que vê uma pessoa quando ingere uma fração de um ponto de LSD! E algo relacionado ao mesmo tempo a um passado meu do qual eu não lembrava direito, não conseguia compreender! Um resquício de um sorriso, numa cabeça morta que não tinha mais rosto, a beatífica visão, o significado, dessa beatífica visão, da morte de um cérebro, da parte final de um cérebro a morrer, de uma pessoa curtindo a sua própria morte, do que chega a sobrar de um cérebro em sua morte!

Me identifico com um homem enforcado em uma árvore, ao lado da cerca da escola ginasial em que eu estudava, e encostado na qual vivia um outro homem, em meio a pedaços de papelão e madeira. Ali, sobre um fogo que fazia, colocava uma lata com restos de comida que lhe eram dados em bares ou restaurantes próximos, onde pedia comida, lhe era dada, aquecia no fogo e comia dividindo o que comia com um  ou dois canídeos que lhe faziam companhia!

Me identifico com um cadáver de indigente estirado em alguma maca para necrópsia, com uma etiqueta amarrada no dedão de um dos seus pés, com um pássaro comendo larvas de moscas , nascidas de ovos seus colocados em algum pedaço de carne largado pelo chão, uma foto em um artigo de uma revista que circulou por algum tempo à muitos anos atrás! O que estaria escrito naquela etiqueta? Não identificado? Sem documentos? Um número ou código colocado ali para identificá-lo? Talvez, simplesmente, Jorge!

Enfim, recebi alta ,também, do hospício, na minha memória, a memória da morte do meu próprio cérebro, no laudo da necropsia a causa mortis: o adiantado estado geral de putrefação do organismo como um todo! Mas o coração ainda bate, ainda circula sangue pelas minhas veias, ainda caminho, e se ainda cago e se ainda caminho deve ser porque eu ainda estou vivo, ser enterrado vivo eu não gostaria! Talvez estejam me procurando, tenham dado pela minha falta em uma das gavetas do necrotério, não sei, é bom prestar atenção, não deixar transparecer certas coisas...vai que se deem conta e me levem e me enterrem assim mesmo, ainda vivo! As vezes eu penso que as pessoas a minha volta são a cria resultante do casamento de duas pessoas: Satanás e Madame Satã, também por alguns conhecidos como Stalin e Hitler Só pode ser, da cruza dos dois serem essas pessoas a cria! Como será que os dois se casaram, como será que desses dois todos os que vivem a minha volta se tornaram a cria! Não sei! Para mim, um mistério, realmente! Como foi e onde e quando que esses dois se casaram não sei! Mas que os filhos puxaram os pais em tudo puxaram! São a cara escarrada dos pais mesmo, não é assim que se diz , quando em tudo se parecem, quando em tudo são semelhantes? Não é algo com que se brinque, Jorge, pois são assassinos, simplesmente assassinos! Capazes das maiores baixezas para conseguirem causar a alguém o que resolvem causar! Você não vê o prazer, a alegria estampada na cara escrota e sórdida e canalha e cafajeste de cada um deles no que se realiza! Na tua desgraça, vagabundo, no pensarem ter te destruído e desgraçado por completo, o riso, a alegria, escrota e sórdida de cada um deles! Não vês? Não sentes|?

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