Eu me vejo no primórdio dos tempos, neandertal, primitivo, com uma lança nas mãos, à contemplar um por de sol vermelho!
Quem eu sou?
De onde vim?
Por que estou aqui?
E me vejo agora, da mesma forma, à perscrutar a imensidão desse universo que me é visível!
Qual será a origem do átomo?
De quem seria eu o átomo?
No corpo de quem à bilhões de anos atrás se criou o átomo, o que está dentro dele, e do que bilhões de anos depois, em mim, resulta, em algo que diz eu, que vê e que sente, e que se pergunta... de quem eu sou o resultado de um seu átomo, de quem eu sou o produto, imperfeito e defeituoso, de sua imaginação e inteligência?
De quem será a energia irradiada por todas as estrelas do universo por bilhões de anos, de quem será a força contida em cada um de seus átomos, que se transformada em rugido de leões famintos em noite escura em uma savana, seria um rugido de leões famintos, ouvido na imensidão infinita do nada, por bilhões de anos? De quem seria, de quem é essa força de vontade de viver??
De quem será, no corpo de quem teria se criado a bilhões de anos atrás?
O que é o que faz com que a luz e o calor se transforme em nós?
Veja, do interior de um átomo, o sorriso que brota, o olhar que brota, no que a luz e o calor se transforma!
De quem será isso que diz a todos nós quando nascemos: que a vida que te foi concedida, assim, em afeto, em alimento para o teu corpo e para a tua alma, de um outro ser, você a recrie, também, algum dia, em afeto, por um outro ser! E que te seja tão prazeroso que nisso tenhas o teu orgasmo! Em algo tão intimo que seja um fundir uma alma do outro!
Que seja sentido da vida, razão de viver!
Em algo que brota da respiração da vida e é ao mesmo tempo a respiração da vida!
De quem será?
De quem será, que resulta o olhar de uma leopardo com sua cria junto a si, que até quem já morreu ainda consegue sentir e compreender: estraçalho or not estraçalho, faço em pedaços or not faço em pedaços, mato or not mato?
No corpo de quem, a bilhões de anos atrás, se criou aquilo do que resulta o que em cada um de nós vê, sente, pensa e fala, toda a complexidade de todas as estruturas psíquicas, todas as funções biológicas, tudo o que se chega a sentir e imaginar: o que está dentro de um único átomo?
Me vejo, da mesma forma, hoje, primitivo, a contemplar um por de sol vermelho!
Um átomo, resultado de um átomo, nessa imensidão, na imensidão de um espaço infinito, em um tempo infinito conseguiria compreender algo além do que nele está contido? Algo que não é um átomo mas aquele de quem em um tempo infinito, em um espaço infinito ele resulta, é apenas produto de imaginação?
E me vejo, pensando na imagem do escultor dizendo para aquilo que esculpiu em pedra: PARLA!, dizendo, assim como sou, maloqueiro e vagabundo, para o Criador:
Qual é a tua, ô, meu?
iveriverso